terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Tinindo, trincando.

Primeiro dia de verão, no calendário pelo menos. As últimas flores desabrocham e as últimas lagartas saem do casulo para mais uma vez voarem. Leves e livres borboletas enfrentando assim mais um ciclo curto, vinte e quatro horas pra ser mais exata. Decido escrever alguma coisa, mas não consigo pensar em nada. Quando um velho me disse que a inspiração vem quando agente menos espera eu não levei muita fé, desacreditada então eu parti para escrever algo, mas como disse nada sai de mim nesse momento. As disparidades das palavras me dão leves enjôos, e eu decido parar. Acuada deito na cama, uma lágrima rola pelo meu rosto, secando antes mesmo de tocar-me os lábios. Eu não consigo entender o motivo, mas me parece que ando tão vazia de tudo... De amor, dor, verbos, adjetivos e palavrões. Fecho os olhos para não pensar nisso, o calor abafante parece querer me engolir e me impede de descansar, por fim adormeço. Começo a sonhar com alguma coisa que não dá pra definir e acordo. Suando e trêmula, pego uma folha e rabisco, rabisco, ponto vírgula, travessão. Enfim fico feliz, o que quis falar não tem ponto fixo e essa contradição é a minha lei. Sempre aparece um abismo escuro, mais conhecido como futuro e me leva a ter breves alucinações. Adentrando a madrugada, sozinha com o meu eu qualquer barulhinho já faz meu coração quase sair pela boca. Talvez o medo de que o ciclo seja abruptamente acabado me causa insônia. E eu choro desesperadamente sem motivo, só pra desocupar o espaço inanimado que acumula sentimentos. Quando vejo que apenas chorar não me basta peço a Deus uma luz, pode até ser luz de velas. Pra confirmar a minha solidão pego um cálice de vinho, e aguerrida tomo um, dois, três goles pra finalmente parar de me lamentar, ou começar não sei. Outro dia eu observava com pesar o cair das folhas no outono e agora eu caio em mim, só pra não sei o quê. Não precisa motivos, porque nem eles são capazes de explicar o quão é difícil administrar o que se pensa, tinindo e trincando eu estou, pra mais uma vez chegar ao ápice e me jogar de lá, aqui jazz alguém que não descobriu o que era e ficou feliz por isso. Mas a procura não terminou, tudo tem seu lado ruim.

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