sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

O amor é chuva

Se esconder do amor é que nem se esconder de chuva em baixo de uma marquise. Você até tenta não se molhar, mas é inevitável que alguns pingos de chuva te atinjam. Com o amor é parecido, você tenta se esquivar, se esconde de todas as formas, mas ele sempre vai alcançar você. A sensação de liberdade e de leveza que a chuva traz à alma deve ser a mesma sensação proporcionada pelo amor e, quando você for atingindo por quaisquer dos dois, não dá pra escolher, você precisa deixar-se contagiar, deixar molhar, se deixar amar e ser amado. Em tardes chuvosas. Beijos e abraços infinitos. Que os trovões se convertam em sorrisos e os raios sejam o brilho estampado nos olhos e no coração. O arco-íris representa toda a infinitude de sentimentos, o seu não-fim, o seu recomeço. Porque todo amor, assim como a chuva, recomeça. E se parecem muito mais com essas de verão, onde você nada espera, acha que o céu não está tão cinza e que está muito calor pra cair uns poucos pingos de chuva. Mas cai um pé d’agua sem fim e você é contagiado, o seu corpo, e pele, e músculos, transbordam. Você começa a amar. Do mesmo jeito que as ruas ficam alagadas, a sua alma também fica. De toda chuva nasce ou re-nasce um amor. Das infinitas possibilidades nasce ou re-nasce um amor. Porque antes de qualquer coisa, assim como a chuva o amor é renascimento. 

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Eu não sei por onde (re)começar, as vezes parece que nunca escrevi, que nunca imaginei um mundo, um destino, um universo de cores. O semestre foi tão curto que se tornou longo, uma longitude de angústias por ver tudo passando tão rápido. As pessoas esperam que a gente escreva coisas, e quando a gente as escreve acreditam que precisa ser para alguma pessoa, que tem alguém, que há de existir inspiração. Mas ao que eu digo, são tantas dores e feridas não cicatrizadas que elas se tornam o motivo. A alma doente, em chagas, por não poder expressar e ainda mais gritar saudade, o motivo de as coisas terem tomado certo rumo ou qualquer coisa que seja. A gente (re)começa a escrever pra curar essas dores. Não há motivos concretos, sério. Você só precisa exprimir suas angústias e grande parte das vezes “magoar” a ferida, pra que a sua cura seja mais concreta. Só que há erros, acho que não há cura concreta para o amor, não há cura concreta pra alma ferida de um poeta. O céu lá fora me pinta de azul, no final da tarde o pôr do sol dança e acende o meu cigarro e é isso. Eu ainda ajudo, ponho Billie Holiday pra tocar e o copo de conhaque não fica vazio. Por maior que seja o sofrimento, a gente tem uma criatividade filha da mãe pra tornar ele maior ainda!  

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Não entendi o motivo de Rachel Sherazade declarar que nós éramos um Estado Democrático de Direito, e que a permanência do Pastor Marco Feliciano na CDHM nada mais era do que um ato baseado na democracia. Mas ela esqueceu de comentar sobre a infelicidade do pastor em querer segregar gente, em matar gente socialmente. Eu acho que um Estado Democrático de Direito e Laico deve assegurar a todos a igualdade, seja racial, sexual ou ideológica. E não é o que está acontecendo. A regressão está cada vez mais explícita, como um condenado penalmente e preso em um regime aberto, sem total vigilância do Estado que comete um grave crime, que no caso em questão é viver a sua própria vida, e por esse motivo tem a sua pena agravada. A sociedade deve se libertar do grilhões religiosos e começar a se basear nos seus próprios ideais, as ideias tem que corresponder aos fatos, como disse o poeta. O poder é do povo e para o povo, tendo este todo o direito de exercer e destituir os seus representantes do poder que lhes é dado em mandato eletivo. Eu não quero mais acordar e me surpreender com dez anos de regressão em favor de um de progressão. Não quero ser esquecida pelo Estado que tanto ajudo a sobreviver e que tantas vezes semicerra os olhos para os problemas, sejam eles de que natureza for. O verdadeiro poder de ser não está somente no que já é, mas também no que pode ser. E juntos nós podemos ser mais!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012



Pode me chamar de gay, não está me ofendendo. Pode me chamar de gay, é um elogio. Pode me chamar de gay, apesar de heterossexual, não me importo de ser confundido. Ser gay me favorece, me amplia, me liberta dos condicionamentos. Não é um julgamento, é uma referência. Pode me chamar de gay, não me sinto desaforado, não me sinto incomodado, não me sinto diminuído, não me sinto constrangido.

Pode me chamar de gay, está dizendo que sou inteligente. Está dizendo que converso com ênfase. Está dizendo que sou sensível. Pode me chamar de gay. Está dizendo que me preocupo com os detalhes. Está dizendo que dou água para as samanbaias. Está dizendo que me preocupo com a vaidade. Está dizendo que me preocupo com a verdade. Pode me chamar de gay. Está dizendo que guardo segredo. Está dizendo que me importo com as palavras que não foram ditas. Está dizendo que tenho senso de humor. Está dizendo que sou carente pelo futuro. Está dizendo que sei escolher roupas. Pode me chamar de gay. Está dizendo que uido do corpo, afino as cordas dos traços. Está dizendo que falo sobre sexo sem vergonha. Está dizendo que danço levantando os braços. Pode me chamar de gay. Está dizendo que choro sem o consolo dos lenços. Está dizendo que meus pesadelos passaram na infância. Está dizendo que dobro toalha de mesa como se fosse um pijama de seda.

Pode me chamar de gay. Está dizendo que sou aberto e me livrei dos preconceitos. Está dizendo que posso andar de mãos dadas com os anéis. Está dizendo que assisto a um filme para me organizar no escuro. Pode me chamar de gay. Está dizendo que reiventei minha sexualidade, reinventei meus princípios, reinventei meu rosto de noite. Pode me chamar de gay. Está dizendo que não morri no ventre, na cor da íris, no castanho dos cílios. Pode me chamar de gay. Está dizendo que sou o melhor amigo da mulher, que aceno ao máximo no aeroporto, que chamo o táxi com grito. Pode me chamar de gay. Está dizendo que me importo com o sofrimento do outro, com a rejeição, com o medo do isolamento. Está dizendo que não tolero a omissão, a inveja, o rancor. Pode me chamar de gay. Está dizendo que vou esperar sua primeira garfada antes de comer. Está dizendo que não palito os dentes. Está dizendo que desabafo os sentimentos diante de um copo de vinho. Pode me chamar de gay. Está dizendo que sou generoso com as perdas, que não economizo elogios, que coleciono sapatos.

Pode me chamar de gay. Está dizendo que sou educado, que sou espontâneo, que estou vivo para não me reprimir na hora de escrever. Pode me chamar de gay. Que seja bem alto. A fragilidade do vidro nasce da força e do ímpeto do fogo.

Fabrício Carpinejar!

sexta-feira, 14 de setembro de 2012



Quando a vi foi como se um raio de sol tivesse me invadido, foi como se todos os astros, o destino e até as pessoas (mesmo que inconscientemente) conspirassem a nosso favor. Essas coisas acontecem tão rápido e nos arrebatam de uma forma que foge à regra, a regulamentações e não são porque a gente quis que fosse assim. Simplesmente aconteceu. E aí você deve aproveitar essa chance, meu bem. Você deve amar, re-amar, e ir continuando. Mesmo que a estrada seja tortuosa, e às vezes você pense em desistir, em achar que está insistindo sem muita fé no que faz. A gente continua porque isso de amor não se encontra fácil por aí, numa sarjeta, num bar ou numa esquina da Augusta. Não acontece de forma igual com ninguém. Ninguém ama ninguém igual ou parecido. O amor deixa latente na gente uma coisa que a gente tem com cada pessoa. É como se o que nos pertence devesse pertencer também a essa outra pessoa. Por isso a doação, por isso a paciência de esperar, a incerteza do não saber quando vai e porque vai ser.  Mesmo assim, como todos esses altos, baixos e pormenores aos quais a vida nos acomoda, eu vou continuar tentando, por você, por nós. Porque o nosso amor a gente é quem sente, e é quem vive, pequena.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Sozinha, no escuro e com frio, não sei se esse é exatamente o retrato correto, mas é o que me parece agora e eu acho que é só saudade. Tanto tempo a gente passa longe de quem a gente queria estar sempre perto, colado, tanto tempo a gente planeja fazer mil e uma coisas quando nos encontramos, mas na hora só conseguir olhar nos olhos, sentir a verdade e sorrir. Esse negócio de amor é meio indelicado, sabe? Ele invade e não tem nem aí pra o que você acha ou deixou de achar, se aquela pessoa vai atender os "parâmetros" que você utilizava para encontrar alguém. Só acontece que, em determinado momento, você cansa de procurar, e acha. Acha o improvável, o que faltava em você. Nesse meio tempo as adversidades tentam sim acabar, pôr fim a tudo. Só que quando é amor mesmo você está disposto a enfrentar e põe a armadura pra a luta diária, pra as pessoas que vão te julgar, que vão se afastar de você, e você vai vencendo tudo, pouco a pouco, como vai vivendo um dia de cada vez. E cada vez mais vai tendo a certeza de que é isso, de que a sua felicidade está sendo determinada. E se você me perguntar porque eu acho isso eu não vou saber responder, eu só peguei uma folha em branco e fui colocando tudo o que eu sentia, e os sentimentos foram se desenrolando. Eu não saberia reescrever, e daqui a vinte dias, seis meses, um ano, eu vou achar tudo isso engraçado, vou sorrir e me perguntar: "porra, porque eu fui tão babaca?" Mas eu acho que isso é parte do aprendizado também, você vai meio às cegas tentando se encontrar. Dia a dia, como um amadurecimento você sorri pra algum estranho na rua, vê um pôr-do-sol, conta uma piada sem graça, toma uma xícara de chá e vai vivendo, e vai transmitindo o que há de melhor em você, e absorvendo o que há de melhor no outro. Tem horas que tudo parece meio doído e cansativo, mas você ama, e aí tudo se revigora.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A dor e a angustia estavam quase que me enterrando viva, esses últimos dias o ócio me fez uma compahia absurda, e o sedentarismo ficou mais forte. Eu lembrei a última garrafa que tinha escondida no fundo do meu armário, fiz isso para não tornar a embriaguez minha irmã, mas não houve jeito, a recolhi hoje, e junto ao meu maço de cigarros eu sorrio contra o vento. Aprendi muita coisa também, a valorizar a vida, como Frida Kahlo o fez, quando a sua madrinha, a morte, a recolheu para junto dela e depois deu uma nova chance, mas continuou matando-a aos poucos. A gente não pode mesmo acreditar num ser cruel quanto esse, que abre a gaiola, mas prende o pássaro pelo pé, e o torna tão fraco a ponto de não conseguir fugir e se render a liberdade. Então eu pensei em como seria um suicídio, e se eu o fizesse, pulando de uma ponte por exemplo, mas eu não vejo uma ponte por perto e lugares altos me dão vertigem. Eu tomei outra dose do meu conhaque e continuei com as minhas divagações de lobo solitário, e para deleite da minha loucura e solidão, imaginei os saltos que o meu santo remédio dava só por tocar meus lábios. Quis escrever, quis tanto que não consegui. Então me saíram essas certas palavras que são tão erradas. Mas para o costume não se perder, assim como o respeito dos outros por mim, eu escrevi, e continuarei escrevendo. Até o cigarro apagar e até eu dormir sob o chão frio, só porque o sono já quer me levar para perto dele, como a morte o faz, quando não aguenta mais esperar e quer a nossa compahia de um jeito ou de outro, porque a gente só é instante.