domingo, 27 de maio de 2012

Te olhei, me olhou, e foi como se a gente já tivesse se visto
Não parecia que seria uma coisa interessante ver campos de primavera
florescerem quando olhei e você olhou nos meus olhos na primeira vez.
Você não me deu ousadia, eu não te dei.
Foi tudo meio frio e superficial, o bom e lindo é que o destino
juntou a gente num canto só, e fez eu ser só de você e você ser só de mim.
Eu não esperava, acho que você também não.
Eu sorria, você também, e tudo era feito numa cumplicidade absurda.
Eu te deixei, você me deixou.
Nos reaproximamos uns dias ou meses até depois.
Eu fazia muito planos, e você só queria estar ali.
Ali, que eu digo, perto de mim (eu acho)
Gosto de ilusões assim, reconfortam sabe.
Eu continuo falando besteiras e você me achando uma idiota, mas ri sempre.
Pra não me deixar sozinha na piada, sei lá.
Penso em você mais a cada segundo que passa, e se o dia
fosse maior eu sentiria mais o peito apertar só de saudade.
Eu gosto assim, de você sorrindo, pequena, os olhos brilhando.
E que continue assim, que essa nossa primavera (que não será trimestral, acredito) resista à todos os invernos que venha a aparecer.
Os dias realmente ficam maiores só porque você está longe de mim
A sorte me ajudou, te ajudou.
Eu tinha que aparecer agora na sua, e você na minha vida
As coisas só acontecem porque tem que acontecer
E que bom que é você, só você, que na vida vai comigo
Porque é o meu bom acontecimento, e eu sou o seu.

sábado, 19 de maio de 2012

mais uma parte. da mesma história!

Mais outro dia, outra noite (na verdade) de esperas. O frio realmente está fazendo as coisas parecerem mais difíceis. O que exalta em mim é sempre a vontade absurda de estar com alguém, ou não. A chuva caindo no telhado é a mesma que está molhando os meus dedos agora já que os pus pra fora pra sentir. Acontece que eu estou me apegando muito aos detalhes ultimamente, e pode ser que isso seja culpa do coração que está feliz. Botei um disco pra tocar, e a Billie Holiday está me enchendo de sorrisos e lágrimas. Como pode uma inconseqüente emocionar a gente assim?! Queria um cigarro, mas prometi que iria parar de fumar, não sei porque, na verdade. Tudo nessa vida é alvo de proibições, do que fazer ou não. E eu cansei mesmo disso também. Acendo o cigarro, movimento rápido o do isqueiro. A velha chama reacende, e a saudade aumenta. Abri a gaveta e achei uma foto antiga e re-comecei o sonho acordada, tudo dói. Tem dias que o antigo se torna mais nosso do que já foi, e é em dias como esse que a gente entende que a vida não é imprevisível, ela sempre está aí pra juntar as pessoas na hora certa, pra aproximá-las quando tem que aproximar. Tentei ler algumas pequenas epifanias, mas nem a leitura está prendendo a minha atenção, nem escrever na verdade. Eu tentei mesmo, mas as horas estão se arrastando, o cigarro quase no filtro, dois goles de chá na xícara (porque hoje quis meu corpo livre dos tóxicos), uma erva daninha pra alegrar o espírito, a melodia na pegada do blues, e eu, só eu, tão só eu, somente eu, compondo, me recompondo, pra recompor a minha alma, que não está ferida.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Tem dias que a gente se sente um caco, e às vezes não é só tristeza, é saudade junto. É um misto de sentimentos de 'vai acontecer, mas nunca acontece', é um não-saber o que pode ser, e o que é. Você só pensa em  se livrar dessa fossa mal-cheia, toma um, dois ou até três doses daquele uísque barato que você comprou esperando aquele certo alguém, acende um cigarro, dá dois tragos e não acha graça alguma, acende outro, mais dois tragos. É o acender e apagar da chama que é o acender e apagar da vida, você pensa nisso e acha tudo meio psicodélico, o medo volta. Acha que foram aquelas drogas sintéticas que usou aquele outro dia, mas já faz tanto tempo... Já faz tanto tempo de tudo, de que você sorriu, ou viu aquela pessoa que deixa seu coração aos pulos, que nem pipoca na panela, a ponto de  te deixar tão idiota pra te fazer utilizar-se dessas analogias ridículas. O disco da Fitzgerald está tocando, as cinzas no cinzeiro parecem gostar da melodia jazzística e dançam,  voam com o vento da sua respiração que está ali perto. Papel, caneta em mãos e ideia nenhuma chega perto. Há sempre a necessidade e há sempre o não-ter. É aquela eterna procura, aquele eterno abrir e fechar de olhos e a também eterna sensação de que se está quase bêbado, mas é só o vazio, o copo não cheio, por causa dos goles anteriores. É vontade de ver o sol sorrir e sair pra vê-lo, porque por mais que se esteja triste e bêbado e ludibriado o sol está sempre saindo, pra te ver, pra nos ver. A noite está acabando, a sensação de vazio ainda está, como o sol. Vamos mesmo sair pra vê-lo.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Confissões de uma adolescente digna de ser compreendida


“Eu sabia que iria ser difícil, sabia que iria doer nas pessoas que me amam ver que tantas outras pessoas me tratam com indiferença, apenas pelo simples motivo de eu não seguir a norma heterossexual, mas sinceramente, eu não esperava que fosse tão difícil. Tentam de toda e qualquer maneira fazer com que eu volte atrás com essa minha decisão, não querem aceitar que eu sou isso, mas eu não estou pedindo que me aceitem, só que me respeitem. Respeitem que é isso que eu escolhi pra minha vida não pelo motivo de ir contra as expectativas das pessoas, mas porque isso é a minha essência, e a minha felicidade plena está ao lado de uma outra mulher. Todos os dias eu tenho que matar um leão, tenho que falar às pessoas da não simplicidade do caso e de que não é engraçado eu ser isso que sou. Que me machuca saber que as pessoas que eu tanto esperava que me ajudassem a me aceitar não estão do meu lado, que elas mal tocam no assunto, fingem que essa não é a nossa vida, que nós não estamos inclusos nessa fogueira que a vida nos lançou. A situação está ficando insuportável. Eu não quero que me falem do quanto um homem é bonito e interessante e que ele serve pra mim, não quero saber que isso que eu estou passando é fase, porque não é. Só estão me confundindo, me dilacerando e tornando mais difícil a minha decisão, não porque eu não tenha certeza, mas porque estou com medo de ser expulsa dessa sociedade heteronormativa. Querem a igualdade entre todos, eu já percebi isso. O fato de eu me relacionar com pessoas do mesmo sexo me torna diferente, e o ser diferente amedronta, amedronta porque estão todos acostumados a viver numa redoma onde temos todos que seguir normas, regras, dogmas e leis. Eu não pedi isso, simplesmente aconteceu. Querem me afastar de pessoas me deixam ser eu, que aceitam essa minha decisão difícil e que me ajudam a perpassar por isso com mais calma e com mais consciência. Eu não sou uma ameaça, não ando pelas ruas agredindo as pessoas nem as excluindo. As pessoas olham pra mim assustadas, porque consideravelmente eu sou uma ameaça aos bons costumes. Mas eu sei que não, eu não quero ser igual, não quero seguir padrões de beleza, não quero que as pessoas, como já disse me aceitem de imediato, que levantem a bandeira do movimento pra apoiar a causa, eu quero apenas que respeitem o meu posicionamento de ser o que sou. Uma mulher que se apaixona por outra mulher, que se sente bem na companhia delas e que espera ter segurança e força para enfrentar quaisquer ventos contrários que tentem derrubar essa idéia. Eu desejo que as coisas realmente melhorem, que as pessoas entendam que isso que está acontecendo comigo não é uma forma para decepcioná-los, não é uma forma para ser a teimosa ou a ovelha negra da família, é apenas a forma de expressar o que sinto, por mais duro e complicado e doído que isso seja. Eu sou feliz por ser quem e o que sou. O medo só está fazendo esse posicionamento mais firme, mais concreto. A felicidade está batendo na minha porta e eu, sinceramente não vou deixar que ela passe despercebida. Vou roubá-la pra mim. E o tempo, que é senhor, vai aos poucos, eu acredito, viabilizar esse entendimento. Não é fácil, digo novamente. Perdi a conta de quantas noites em claro eu passei chorando esperando um simples: “não se preocupe, eu estou do seu lado” e quantas vezes isso não veio, ou nunca veio, ou nunca irá vir.” (Confissões de uma adolescente digna de ser compreendida. Luísa,19 anos, 2012, Brasil)