segunda-feira, 7 de maio de 2012

Confissões de uma adolescente digna de ser compreendida


“Eu sabia que iria ser difícil, sabia que iria doer nas pessoas que me amam ver que tantas outras pessoas me tratam com indiferença, apenas pelo simples motivo de eu não seguir a norma heterossexual, mas sinceramente, eu não esperava que fosse tão difícil. Tentam de toda e qualquer maneira fazer com que eu volte atrás com essa minha decisão, não querem aceitar que eu sou isso, mas eu não estou pedindo que me aceitem, só que me respeitem. Respeitem que é isso que eu escolhi pra minha vida não pelo motivo de ir contra as expectativas das pessoas, mas porque isso é a minha essência, e a minha felicidade plena está ao lado de uma outra mulher. Todos os dias eu tenho que matar um leão, tenho que falar às pessoas da não simplicidade do caso e de que não é engraçado eu ser isso que sou. Que me machuca saber que as pessoas que eu tanto esperava que me ajudassem a me aceitar não estão do meu lado, que elas mal tocam no assunto, fingem que essa não é a nossa vida, que nós não estamos inclusos nessa fogueira que a vida nos lançou. A situação está ficando insuportável. Eu não quero que me falem do quanto um homem é bonito e interessante e que ele serve pra mim, não quero saber que isso que eu estou passando é fase, porque não é. Só estão me confundindo, me dilacerando e tornando mais difícil a minha decisão, não porque eu não tenha certeza, mas porque estou com medo de ser expulsa dessa sociedade heteronormativa. Querem a igualdade entre todos, eu já percebi isso. O fato de eu me relacionar com pessoas do mesmo sexo me torna diferente, e o ser diferente amedronta, amedronta porque estão todos acostumados a viver numa redoma onde temos todos que seguir normas, regras, dogmas e leis. Eu não pedi isso, simplesmente aconteceu. Querem me afastar de pessoas me deixam ser eu, que aceitam essa minha decisão difícil e que me ajudam a perpassar por isso com mais calma e com mais consciência. Eu não sou uma ameaça, não ando pelas ruas agredindo as pessoas nem as excluindo. As pessoas olham pra mim assustadas, porque consideravelmente eu sou uma ameaça aos bons costumes. Mas eu sei que não, eu não quero ser igual, não quero seguir padrões de beleza, não quero que as pessoas, como já disse me aceitem de imediato, que levantem a bandeira do movimento pra apoiar a causa, eu quero apenas que respeitem o meu posicionamento de ser o que sou. Uma mulher que se apaixona por outra mulher, que se sente bem na companhia delas e que espera ter segurança e força para enfrentar quaisquer ventos contrários que tentem derrubar essa idéia. Eu desejo que as coisas realmente melhorem, que as pessoas entendam que isso que está acontecendo comigo não é uma forma para decepcioná-los, não é uma forma para ser a teimosa ou a ovelha negra da família, é apenas a forma de expressar o que sinto, por mais duro e complicado e doído que isso seja. Eu sou feliz por ser quem e o que sou. O medo só está fazendo esse posicionamento mais firme, mais concreto. A felicidade está batendo na minha porta e eu, sinceramente não vou deixar que ela passe despercebida. Vou roubá-la pra mim. E o tempo, que é senhor, vai aos poucos, eu acredito, viabilizar esse entendimento. Não é fácil, digo novamente. Perdi a conta de quantas noites em claro eu passei chorando esperando um simples: “não se preocupe, eu estou do seu lado” e quantas vezes isso não veio, ou nunca veio, ou nunca irá vir.” (Confissões de uma adolescente digna de ser compreendida. Luísa,19 anos, 2012, Brasil)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gorjetas